sábado, 27 de agosto de 2011

Mudança de Planos



Sempre fui aquela menina obediente que ao sair dá explicação aos pais e volta no horário determinado. Porém, ao conhecer Harry tudo isso mudou. Minhas saídas ficaram constantes, virou costume trocar "elogios" com meus pais pelo fato deles implicarem com o meu namoro e perdi as contas de quantas vezes cheguei em casa junto com o nascer do sol.

Há algumas semanas, eu e Harry planejamos uma fuga. Afinal, nós nos amamos e pensamos em construir uma vida juntos. Fiquei com um pouco de receio, admito, mas a atração pelo desconhecido foi maior. Nossa nova vida começaria amanhã e eu estava extremamente ansiosa e feliz, pois iria viver com a pessoa que eu amo e do jeito que eu sempre quis.

•••
Acordei antes de o despertador tocar. Levantei-me e caminhei até a janela que havia no meu quarto. O sol estava começando a nascer e eu fiquei ali em pé, admirando o belo espetáculo que acontecia todos os dias mais era notado por pouquíssimas pessoas. Após fazer o que precisava, vi que já estava na hora de ir. Fui até o quarto dos meus pais, depositei um beijo no rosto de cada um deles e deixei em cima da cabeceira perto da luminária um bilhete explicando o porquê daquilo que eles chamariam de loucura. Peguei minha bolsa branca e azul saindo de casa sem olhar para trás, comportando-me como adulta, porém, mal tinha completado meus dezenove anos.

Cheguei ao local combinado antes de Harry. Estacionei minha bicicleta azul e fiquei em pé esperando. Passaram-se meia hora e nenhum sinal dele. Senti-me um pouco cansada e por isso resolvi sentar. Ao me sentar, senti um papel roçar em minha pele. Vi que era uma carta. Peguei e a abri.

"Adorável Samanta,
não sei nem como começar esta carta que decidirá o nosso caminho. Aliás, o seu, pois o meu eu já decidi. Não pense que estou fazendo isso pelo fato de não ter sido feliz com você, ao contrário, tivemos ótimos momentos juntos - brincadeiras, risos, calorosos abraços e vimos que tínhamos com quem compartilhar não só vitórias, mas derrotas também. Porém, pensei bem e vi que esta não é a vida que quero para mim. Não agora. Estou novo, tenho apenas vinte anos de idade e não pretendo me casar agora. Tenho que aproveitar o resto da minha juventude antes de vir a construir uma família, uma vida.
Sentirei sua falta - estou sendo sincero ao dizer isto, acredite - mas, infelizmente, nem tudo é como queremos. Pode me chamar de covarde pelo fato de não lhe dizer essas coisas pessoalmente, mas não conseguiria lhe falar isto cara a cara. Você é uma garota incrível, Sam. Fez diversas coisas para ficarmos juntos e surpreendeu-me ao discutir inúmeras vezes com seus pais por minha causa, e por isso, eu estaria sendo injusto com você se viesse a te iludir. Eu não te mereço, Samanta.
Seja feliz, doce Sam. Gosto muito de você, mas não do jeito que você gosta de mim. Desculpe-me, espero que me entenda.
Com carinho, Harry."

Tola. Era assim que eu me sentia agora. Não acredito na carta miserável que acabei de ler. Como Harry pôde desistir da nossa viagem, da vida que planejamos construir juntos? Por que ele fez isso? Perguntei a mim mesma. Depois de tudo o que fiz por ele, por nós.
Abri minha bolsa e tirei de dentro uma foto na qual eu estava com meus pais. Uma das pouquíssimas fotos que tínhamos juntos, afinal, não éramos fãs de fotografias. Será que eles já estão acordados? E o pior, será que estão sentindo raiva de mim? A filha que se transformou por causa de um simples rapaz. Lágrimas começaram a descer dos meus olhos. O vento veio forte contra a minha face fazendo-me inspirar o ar e depois o soltar, tentando junto com ele libertar-se de todos os sentimentos que eu estava sentindo agora.
Tristeza, por não estar com o homem que conquistou meu coração. Raiva, por ele querer seguir seu caminho sem mim. Medo, do que meus pais farão ao ver-me novamente e amor; porque apesar de tudo eu ainda o amo.

Depois de um bom tempo fazendo-me sofrer diante daquele céu azul e uns capins que deixavam o local simples e bom para fugir do mundo e dos problemas, levantei-me pegando minha bolsa e guardando a foto. Suspirei e montei em minha bicicleta voltando para casa com esperança de que meus pais me aceitassem novamente e que eu pudesse vir a ser feliz mais uma vez, só que sem Harry. Somente comigo mesma, minha família e um novo companheiro chamado amor próprio.


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Nota: Pauta para o Projeto Suas Palavras - 19ª edição imagens. Escrito por mim.

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